Opção preferencial pelos pobres

Como vimos na Constituição 5, “A preferência pelas condições de necessidade pastoral ou pela evangelização propriamente dita e a opção em favor dos pobres constituem a própria razão de ser da Congregação na Igreja e o distintivo de sua fidelidade à vocação recebida”. Esta dimensão central do carisma e missão da Congregação é apresentado logo no inicio pelas Constituições 3 e 4. Na prática, acabamos por encontrar duas categorias que, não sendo distintas, são apresentadas segundo critérios diferentes.

A Constituição 3 apresenta “os homens mais abandonados”, aqueles a quem é dirigida a obra da evangelização, e apresenta-os em sentido eclesial: tal como Afonso descobriu em Scala, são aqueles a quem não chega o anúncio do Evangelho por causa das limitações da Igreja: “Os homens mais abandonados, aos quais, de modo especial, é enviada a Congregação, são os que a Igreja não pôde ainda prover de meios suficientes de salvação; os que nunca ouviram o anúncio da Igreja ou, pelo menos, não o recebem como “Evangelho”; ou, finalmente, os que são prejudicados pela divisão da Igreja”.

A Constituição 4 apresenta a opção preferencial pelos pobres: “Entre os grupos humanos mais necessitados de auxílio espiritual atenderão de modo especial os pobres, mais fracos e oprimidos, cuja evangelização é sinal da obra messiânica e com os quais o Cristo mesmo quis, de certa maneira, identificar-se”. Sendo esta opção um dado fundamental na vida dos redentoristas, não pensemos nunca que se trata de uma especificidade sua, ou de uma moda pós-conciliar: “é sinal da obra messiânica”. O pobre é uma figura central na Bíblia. Os profetas permanentemente chamam à atenção que a vivencia da Aliança implica um compromisso pelos pobres, órfãos e viúvas; e, claro, encontramos as palavras do próprio Jesus no capítulo 25 de Mateus: O que fizestes a estes meus irmãos menores, a mim o fizestes (Mt 25, 40).

E não só a acção junto dos pobres e oprimidos, dos que não encontram senão em Deus a sua única defesa, é um sinal do Reino, como o próprio Jesus coloca a condição de ser pobre para acolher o Reino: Bem-Aventurados os pobres de coração, porque o Reino de Deus lhes pertence (Mt 5, 3). Embora o acolhimento do Reino não depende da situação material de cada um (por exemplo, Zaqueu), Jesus bem fez a experiencia de que a riqueza de bens pode conduzir à não disponibilidade de coração (por exemplo, o Homem Rico).

Como deve dirigir-se a Congregação aos pobres e abandonados? Sempre no desenrolar da sua missão: o anúncio do Evangelho. Como vimos pela profundidade e riqueza dos conceitos de missão e de evangelização, estes incluem o testemunho da caridade fraterna, como a preocupação por todas as dimensões da vida humana: “O mandato conferido à Congregação de evangelizar os pobres visa a libertação e a salvação da pessoa humana toda. Os membros da Congregação têm como incumbência o anúncio explícito do Evangelho e a solidariedade com os pobres, a promoção de seus direitos fundamentais na justiça e na liberdade, com o emprego dos meios que sejam, ao mesmo tempo, conformes ao Evangelho e eficazes” (Const. 5).

Assim, os redentoristas anunciam e vivem a Salvação como libertação de todas as escravidões do Homem: “Ao fazer presente a Deus na situação, a libertação se converte em salvação, e vice-versa. Quando experimentamos a libertação – sob qualquer forma – devemos reconhecer-lhe como a Graça de Deus, como um dom, como a Salvação que está a acontecer nos alicerces da vida” (Kevin Dowling cssr).

Também se acentua a dimensão de cada redentorista deixar-se evangelizar pelos pobres, mesmo como condição de o preparar para a missão apostólica. Esta dimensão entra no caminho que cada redentorista faz de conversão pessoal e comunitária: “Devem os Redentoristas fazer convergir seus esforços a fim de se revestirem do Homem Novo feito à imagem do Cristo crucificado e ressuscitado dos mortos, de modo que se purifique todo o seu modo de julgar e agir. Toda a sua vida quotidiana deve ser marcada pela conversão do coração e constante renovação do espírito. Esse esforço importa em permanente abnegação de si mesmo que elimina o egoísmo e abre livre e largamente os corações aos outros, em conformidade com a dimensão da vocação apostólica. Empenhando-se, dessa forma, pelos outros por causa de Cristo, adquirirão aquela liberdade interior que dará a toda a sua vida unidade e harmonia” (Const. 41).

O redentorista, como discípulo de Jesus, deve palmilhar o seu caminho de total pobreza, liberdade e disponibilidade para a entrega pelo Reino. A pobreza na forma de viver significa diversas atitudes a viver na missão:
· solidariedade: “A caridade missionária exige que os Redentoristas levem uma vida verdadeiramente pobre, que seja condizente com a dos pobres a evangelizar. Dessa maneira demonstram solidariedade com os pobres e se tornam para eles um sinal de esperança” (Const. 65).
· inculturação: “Procurarão igualmente, com sinceridade, compreender os valores tidos em consideração por outros povos, mesmo que não sejam conformes aos seus e aos de sua cultura. Daí se originará aquele frutuoso diálogo que revelará as riquezas que Deus distribuiu aos povos” (Const. 66).
· Disponibilidade: “Aceitarão de boa vontade a situação que talvez os chame de um lugar para outro a fim de, em espírito de abnegação, viverem em liberdade evangélica. A pobreza igualmente os levará a se inserirem com alegria nas diversas instituições, como servos fiéis do Evangelho, colaborando com todos os homens para o bem da missão” (Const. 67).

Além disso, leva a compreender que é na missão junto e com os pobres que o redentorista se torna discípulo de Jesus, cresce como seu discípulo, o encontra, escuta e conhece. O primeiro beneficiado da obra da evangelização é o evangelizador. Os pobres “obrigam-no” a viver, no máximo das suas possibilidades e limites, o Evangelho que anunciam!

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